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Influenciadores Financeiros: Deixe de Segui-los

Eu tenho algumas notícias para você, mas é importante ouvir de vez em quando: enriquecer não é tão fácil quanto parece. Começar um artigo com essa mensagem pode não ser o mais otimista, mas é uma verdade que todos precisam entender. Infelizmente, muitos influenciadores financeiros preferem vender uma narrativa diferente, muitas vezes para promover produtos, seja por financiamento de corretoras, ou até mesmo para vender seu curso. A realidade é que a maioria das promessas de ficar rico rapidamente na Bolsa de Valores são exageradas.

O YouTube/Instagram de finanças, um espaço repleto de miniaturas sensacionalistas, previsões de mercado, dicas financeiras (que, na verdade, não são dicas financeiras), e claro, os acordos de marcas mais suspeitos que você já viu. Hoje, vou explicar por que tomo essa decisão e por que seguir YouTubers de finanças pode ser prejudicial para suas finanças pessoais.

Eles geralmente seguem um padrão comum: “Você pode ficar rico, desde que siga meu conselho secreto!” No entanto, quando esse conselho se transforma em um produto pago, a maioria das pessoas percebe que é apenas um golpe. Infelizmente, algumas não percebem, e isso é preocupante. Neste artigo, vamos focar em porque devemos ser mais críticos em relação ao conteúdo que estamos consumindo (incluindo o meu). Vamos entender porque Peter Lynch menciona logo no início de seu livro: “Pare de escutar os profissionais.”

Os Problemas Gerados Pelos “Especialistas de YouTube”

1. O Problema com Previsões

Primeiramente, quero abordar a tendência dos YouTubers de fazerem previsões sobre assuntos relacionados às finanças. Isso inclui previsões sobre o rumo da economia, se o mercado de ações vai subir ou cair, e quais ações terão um aumento de preço significativo no próximo ano.

Alguns desses YouTubers têm uma grande influência sobre suas audiências, e suas previsões podem afetar significativamente as decisões financeiras dos espectadores. Muitos consumidores de conteúdo financeiro no YouTube têm conhecimento limitado sobre finanças, e eles buscam orientação para tomar decisões mais informadas sobre seu dinheiro.

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Magos da Bolsa de Valores.

Por exemplo, alguém que está entrando no mundo das finanças pode não saber em que ações investir. Eles podem assistir a um vídeo intitulado “Melhores Ações para Investir em 2023” e decidir investir nas ações mencionadas no vídeo. No entanto, essa estratégia pode ser arriscada, porque a maioria dos YouTubers não possui experiência profissional em investimentos; eles são principalmente comunicadores talentosos que podem persuadir seus seguidores.

Analisei vídeos antigos de grandes YouTubers de finanças nos quais fizeram suas escolhas e previsões de ações com base em sua “diligência devida”.

Após alguns anos, podemos avaliar o desempenho real dessas ações em comparação com o hype criado pelos YouTubers. Dessa forma, encontrei vários vídeos, de influenciadores financeiros famosos do YouTube, onde todos sugeriram fortemente a compra de Cielo (CIEL3) para carteira focada em dividendos. Agora, após alguns anos, pode-se verificar o desempenho dessa ação, que caiu quase 85% desde a época.

Não muito distante, também houveram diversas recomendações de Paranapanema (PMAM3), que ganhou bastante fama após Luiz Barsi comentar sobre o ativo. Diversos YouTubers fizeram questão de visitar a fábrica da empresa para gravar vídeos, aproveitando o hype para gerar visualizações. Veja que PMAM3 atingiu seu ápice de cotação durante as publicações dos vídeos, e logo após caiu quase 90%, estando ela agora em recuperação judicial.

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Primo rico visitando PMAM3 (2019). Fonte: YouTube
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Cotação da PMAM3 em 2019. Fonte: Google.

2. Responsabilização

Segundamente, e não menos grave, temos a cultura da falta de responsabilização dos influenciadores financeiros. Assim, vamos analisar as seguintes notícias:

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Mudança de posição. Fonte: Cassiano B. (@investircomsim).

Ambas realizadas pela mesma instituição, os grandes investidores usam de suas presenças na mídia para manobrar investidores. Portanto, se coloque na perspectiva de um novato, lendo informações de “grandes fundos”, que “sem dúvidas” são respeitáveis, a chance de tendenciar uma alocação é alta. Quem nunca aportou em um ativo por indicação de influenciadores financeiros e analistas, que atire a primeira pedra.

Conforme exibido na figura acima, primeiramente se induz a redução de posição na Bolsa brasileira, causando pânico/ruído, e após 2 meses, o mesmo fundo noticia que vai aumentar sua exposição no “ativo” que ela considerava de risco. Você realmente acredita que esse tipo de notícia não induz as pessoas? E mais importante, quem ganha com isso? Eu sei quem não ganha, e é o investidor que se deixa levar por notícias e informações levianas.

Por fim, e o crucial desse tópico, não há qualquer responsabilização de quem propaga, seja na divulgação, seja para quem faz questão de informar sua posição. Se eu estou fazendo um movimento na bolsa que pode me deixar rico, por que vou avisar o mundo inteiro? Por isso, procure vídeos antigos de seus “tutores” (isso se não tiverem sigo apagados), e veja como ele se comportou em momentos específicos de um ativo. Seja cético.

3. O Sensacionalismo no YouTube Financeiro

Além das previsões, outro problema comum no YouTube financeiro é o sensacionalismo. Os criadores muitas vezes são incentivados a usar títulos sensacionalistas e miniaturas atraentes para atrair cliques e visualizações. Isso pode resultar em vídeos que exageram as condições do mercado financeiro e criam um ambiente de constante alarmismo.

Por exemplo, quantas vezes você já viu título como: “O Pior Colapso em 40 Anos”, “O Mercado Imobiliário Está Enlouquecendo”, ou “A Crise Chegou”. Esses títulos pintam uma imagem exagerada da situação real da economia e podem criar ansiedade desnecessária entre os espectadores.

4. A Ganância dos Influenciadores Financeiros

Por fim, a ganância também se tornou um problema nas redes sociais, muitos influenciadores foram criticados por promover empresas e produtos questionáveis em troca de dinheiro. Isso inclui a promoção de corretoras de criptomoedas, ativos de empresas, e produtos financeiros arriscados, sem fornecer informações adequadas sobre os riscos envolvidos.

Embora seja compreensível que os YouTubers desejem maximizar seus ganhos, é importante fazê-lo de maneira ética, fornecendo valor genuíno aos seguidores e garantindo que os produtos e empresas promovidos sejam legítimos e seguros.

Conclusão

Em resumo, é fundamental abordar o conteúdo financeiro no YouTube com um olhar crítico. Não se deve seguir cegamente as recomendações de ações dos influenciadores financeiros e “especialistas”, e é importante discernir entre informações sensacionalistas e conselhos úteis. A responsabilidade financeira recai sobre cada indivíduo, e tomar decisões informadas é crucial para o sucesso financeiro.

Por fim, reforço que o intuito deste artigo não que você pare de consumir conteúdo de influenciadores (eu também consumo), mas que você filtre a informação. Seja mais cético, reflita por si mesmo, pois quem vai amargar a perda de patrimônio não é o Primo Rico ou o Barsi, eles tem bastante capital.

Ao buscar orientação financeira, é aconselhável procurar fontes confiáveis e experientes em vez de confiar cegamente em influenciadores que buscam cliques e patrocínios. Afinal, sua estabilidade financeira é uma responsabilidade pessoal, e a busca por conselhos financeiros deve ser guiada pela prudência e pela busca da verdadeira educação financeira.

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Moacir Pereira

Artigo excelente!!! Também tenho o habito de ouvir diversas pessoas/yuotubers, mas procuro avaliar o que cada um está dizendo. Busco algum “alinhamneto” entre o que dizem. Obrigado.